domingo, abril 17, 2011

Social 30

Foto de Paulo Nozolino

Os dias que correm em Portugal e na Europa são de tal modo preocupantes que para não deprimirmos definitivamente, temos que nos socorrer dos pensamentos de autores que nos  desafiam a continuar. Deixo-vos um poema do Mia Couto, escrito em 2004, mas que não podia ser mais actual.

A versão original é esta:

Demoliram o país de Ahmed.
Erro de construção, justificaram.
Os pilares acentavam numa fé errada.

Debaixo do tecto
se abrigavam famílias,
velhos, meninas, mulheres.

Todos tinham o mesmo nome,
o nome daqueles que não têm nome.

O país ruiu,
ante bombas e tanques,
prova de que não estava bem dimensionado.Os pombos escaparam,
os pobres não.
Que culpa têm os demolidores
de haver tanta gente viva?

Dos que sobraram
não se escutam lamentos.
Os moradores choram numa língua errada.

Entre os escombros,
um braço de menina
ousa a culpa: de que valia ser criança
se não dava uso à infância?

Erro de cálculo na engenharia,
falta de sustentabilidade ambiental,
inviabilidade financeira:
o auditor da comunidade internacional,
encerrou o file no laptop,
e suspirou, aliviado: felizmente,
a maior parte dos países
nunca chegou a existir 
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