quinta-feira, setembro 16, 2010

Social 24



A recente crise que Maputo viveu teve origem no enorme descontentamento da população. Os elevados níveis de pobreza aliados ao disparo dos preços de bens essenciais despoletaram a revolta. A revolta foi apelidada pelos responsáveis políticos como vandalismo e as manifestações consideradas ilegais.

Importa esclarecer que as manifestações seriam sempre ilegais porque não foram convocadas por nenhuma associação legalmente constituída, mas sim por um movimento espontâneo e popular que surgiu em mensagens sms.

Importa ainda esclarecer que cerca de 90% da população é formalmente desempregada e vive de biscates e que cerca de 45% da população é menor.

Importa também esclarecer que a violência vivida naqueles dias resultou em grande parte da forte e brutal repressão policial que cumpria ordens. De facto, dias depois houve testemunhos de polícias que confessaram que eles também queriam estar no outro lado da barricada porque eles também passam mal, apenas cumpriam ordens superiores.

É necessário ainda referir que o salário mínimo ao câmbio actual é de cerca de 50 euros. Um polícia em início de carreira tem este salário e um polícia com 10 anos de serviço ganha menos de 100 euros.

Os factores que contribuiram para esta revolta foi o aumento desmesurado do custo de vida. No último ano, o metical desvalorizou face ao euro, ao dólar e ao rand ( moeda fundamental em Moçambique já que a maioria das importações vêm da África do Sul e Moçambique importa quase tudos os alimentos ) cerca de 40%. Este facto aliado ao aumento dos preços a nível internacional tornou a situação incomportável para a maioria da população.

O governo, depois de dias de silêncio e repressão ( os serviços de mensagens dos telemóveis foram bloqueados durante 3 dias pelas operadoras ) veio depois anunciar que subsidiaria o preço dos combustíveis, da energia, água, arroz e do pão. Estas medidas acalmaram a população mas, imagino que são a prazo insustentáveis para um país tão pobre como Moçambique cujo Orçamento de Estado é subsidiado por doadores internacionais em cerca de 50%. Assim, prevejo que o futuro será instável e novos protestos se farão ouvir e sentir. Quando a miséria é extrema e a fome aperta, a linha de separação entre o protesto e a violência é demasiado ténue. É a revolta dos que cairam em desgraça.

Sem comentários:

  • Todas as fotografias expostas têm a permissão dos respectivos autores.
  • Exceptuam-se apenas as fotos da Secção Biografias.
  • O Blografias agradece a todos os autores que participam neste espaço de divulgação de fotografia
  • Optimizado para o IE 7.0 com resoluções de 1280 por 768 ou superiores

    Espaço criado e gerido por Francisco Máximo

    Blografias com luz - 2005-2012